VAMOS FALAR SOBRE O HERPES LABIAL
No outro dia abordaram-me com uma pequena ferida no lábio e, após curta conversa e avaliação, concluímos ser uma activação de herpes labial. Foi recomendado o tratamento adequado, e nem 5 minutos se tinham passado… Mas após ser abordado para escrever este texto, pus-me a pensar um pouco mais: O que é que significa ter herpes? Então fui rever alguns dos conhecimentos de virologia e investigar brevemente o assunto pelo que aqui vos apresento o sumo desta minha incursão.
1º O que é?
É um vírus. Isso significa que uma infecção de herpes é provocada por um pseudo-organismo extremamente pequeno, e que não tem capacidade para se reproduzir sem recorrer a células de um hospedeiro (por oposição aos fungos e às bactérias que muitas vezes conseguem fazê-lo mesmo não estando a infectar ninguém).
Aquilo que habitualmente se designa por “herpes” é uma infecção causada por uma de duas espécies de vírus – HSV-1 (herpes simplex virus 1) ou HSV-2 (herpes simplex virus 2) – que por sua vez pertencem à família de vírus Herpesviridae (da qual fazem parte também muitos outros virus como o da varicela). Normamente o HSV-1 é responsável pelo herpes labial, e o HSV-2 pelo herpes genital, mas ocasionalmente o contrário também pode acontecer.
A infecção por estes virus não tem cura.
É caracterizada por alguns curtos períodos de activação, habitualmente com sintomas de ardor e formação de vesículas nos locais infectados.
2º Como é que nos contagiamos?
Contacto da pele de uma região infectada com pele não-infectada num ambiente húmido. E tudo o que possa implicar algum contacto semelhante. O herpes não sobrevive muito tempo fora do corpo, e precisa de alguma ferida (ainda que basta que seja microscópica) para entrar através da pele. As regiões das mucosas estão sempre mais vulneráveis.
Uma forma de evitar o contágio é não ter contacto com uma zona de herpes activo, que é onde existe maior quantidade de virus em replicação. Apesar disto, por vezes o vírus é libertado do local infectado após um período de ativação que não apresentou quaisquer sintomas (o que pode complicar este processo de prevenção). Por isso é importante dizer que qualquer pessoa que tenha o vírus o pode transmitir, mesmo que não pareça ter nenhuma infecção activa.
3º É perigoso?
Nim. Habitualmente o HSV-1, responsável pelo herpes labial, não passa de um incómodo ocasional, que pode ser facilmente controlado. Apesar disso, existe a possibilidade de transmitir o virus para outros locais, dos quais o olho é talvez o mais impressionante, por originar uma infecção ocular que pode levar a cegueira. A forma de evitar é simples: Não tocar no olho depois de tocar na região afectada. Aliás, é boa política simplesmente não mexer na região afectada em geral. Aquelas vesículas que se formam acabarão por secar, formar uma crosta, e cair.
O HSV-2, por outro lado, tem a possibilidade de causar herpes neo-natal nos bebés de grávidas com a infecção ativa durante o parto. Com o devido acompanhamento e medicação, isto é controlado.
4º Como é que surge o herpes labial?
As teorias para a reactivação do vírus são muitas. Apesar de não ter evidência de alto grau para as próximas afirmações, aqui está uma lista das coisas que costumam activar: menstruação, infecções concomitantes (constipação, gripe, amigdalites e afins), má nutrição, excesso de sol, medicação ou radioterapia e o stress. Relativamente a algumas destas coisas há pouco que se possa fazer, mas outras podem ser corrigidas, pelo que pode valer a pena aproveitar uma reactivação para fazer uma reavaliação do nosso “estado de saúde” nos últimos dias ou semanas…
5º Como é que trato?
Como já foi referido, não existe cura definitiva. Uma vez que se tenha apanhado, o virus fica guardado nas nossas células, sempre ameaçando a possibilidade de nos causar incómodo e de ser transmitido. Relativamente ao tratamento do herpes labial em particular, as activações do vírus são auto-limitadas, pelo que acabarão por parar e sarar com o tempo. Se, no entanto, for aplicada uma formulação tópica com um antiviral (cujo nome costuma terminar em “-ciclovir”) logo no início da activação (quando ainda só está vermelho e faz comichão…), reduz-se significativamente a duração da mesma.
No caso de causar particular dor ou incómodo, existem várias alternativas no mercado. Para controlar a dor pode-se usar paracetamol ou um AINE (anti-inflamatório não esteróide), mas existem agora várias formulações em cremes, pomadas ou pensos (ou outras tantas que cada dia sai uma nova!), que têm alguns compostos destinados a ajudar a pele a recuperar e a reduzir o incómodo. Não tenho muita evidência robusta sobre a sua eficácia no tratamento, mas reportam-me que muitas vezes aliviam de facto os sintomas e reduzem o tempo de cicatrização das vesículas.
Como também já foi referido, a infecção pelos virus do herpes não gera sempre apenas esta sua manifestação “menor”. Por isso mesmo, existem antivirais para tomar em comprimido, xarope ou afins, que se destinam a impedir o avanço, controlar os sintomas, e ainda reduzir drasticamente a possibilidade de contágio. No entanto, como também são um pouco tóxicas, o seu uso tem de ser supervisionado pelo médico.
Resumindo:
Reduz-se a probabilidade de contágio se não estivermos em contacto com uma infecção activa. Mas não se elimina completamente a possibilidade.
Apesar de as estimativas variarem consideravalmente de sítio para sítio, posso dizer que certamente uma grande percentagem da população (pelo menos 40%) já se encontra infectada e tem o vírus inactivo durante a maior parte do tempo, sem que isso lhe cause grande transtorno.
Na maior parte das suas manifestações, o herpes não passa de um incómodo. Apesar disso, pode originar algumas complicações mais graves, para as quais devemos estar informados.
Texto escrito pelo João.