VIAJEI PARA CUIDAR

Regressei a casa, à rotina do trabalho, da farmácia e da escola, para os degraus da minha escadinha (Te e Quico), depois de uma semana a cuidar de quem precisa de mimo, colo, food for the soul, de um abraço bem apertado para tornar as lágrimas mais doces, de ouvir segredar ao ouvido, quantas vezes foi preciso, que apesar de o cabelo ter caído continua uma pessoa linda.

Porque … na verdade doesn`t really matter, isso é apenas uma gota no oceano, voltará a nascer.

Comprei os voos sem hesitar. Fui impulsiva? Talvez.

Deixei-me levar pelo coração, pelas emoções, pela necessidade de cuidar.

Às vezes não vale a pena gastar neurónios a pensar, é para fazer, avançar, neste caso IR.

Nos dias que antecederam a viagem fui invadida pelo típico nervoso miudinho de deixar os miúdos, apesar de saber que ficariam bem . Acho que é um sentimento comum a muitas mães.

Confesso que também estava receosa pela situação difícil que me esperava por terras de Sua Majestade.

Tinha dúvidas acerca do que seria mais acertado fazer ou dizer quando chegasse lá.

Quando se está a mil e muitos kms, a distância leva-nos a imaginar e a supor muitas coisas.

Existem as palavras certas, as mais adequadas nestes momentos difíceis, as perfeitas ou as mais reconfortantes de todas?

Assim rumei para Inglaterra, levando além da minha Mada, uma mala apenas com o básico e os indispensáveis: galochas, guarda-chuva, gorros, batom do cieiro, e um cold cream para proteger a pele do frio.

Carreguei o iPad com músicas e jogos e de mochila às costas embarcámos as duas de madrugada.

Durante uma semana cuidámos dos nossos.

A alegria, as brincadeiras e as conversas da pequena Mada foram um balão de oxigénio para todos, ajudaram a dissipar as nuvens cinza nos dias das consultas e dos tratamentos.

Foi tempo de sossegar as saudades, de tranquilizar o coração, de simplesmente estar.

Assumi o papel de cuidadora, sem guiões ou teorias daquilo que se deve ou não dizer/fazer.

Porque são os medicamentos que tratam a doença que obedecem a um esquema, a guidelines, e também eles estão sujeitos a alterações de acordo com a evolução da doença e as reacções do corpo.

Confirmei o super poder dos abraços fortes, das pequenas atenções, do silêncio e da comida reconfortante, como parte fundamental na recuperação e no tratamento.

Na hora de despedida, apesar de não conseguir conter a emoção da separação, embarquei com a certeza de ter deixado a nossa pegada de amor, de esperança que tudo vai correr bem.

De um muito em breve happy end.

Viajei para cuidar

 

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