VERDADE E VACINAS

Uma pica aqui… outra acolá

No final da alegoria da caverna, quando aquele que viu a Verdade volta para espalhar a notícia, Platão faz notar que não ninguém acreditaria, como “se fosse possível por mão em tal homem… matá-lo-iam”. A questão aqui é diferente: Uma vez que a verdade não é detida por nenhuma única pessoa, o mais importante é perceber qual dos grupos é que saiu da caverna; e qual é que está a olhar para sombras e fantasmas.

“Pessoas, vacinem-se!”, é tão fácil dizer esta frase como é ignorá-la. Então, como é que se convence alguém de que esta é realmente uma questão de grande importância?

A sério? Ninguém tem uma resposta? Please? É que eu estou um bocado às escuras.

As empresas farmacêuticas têm o dever de produzir os meios para a protecção da saúde das populações.

Os jornalistas têm o dever de representar a actualidade, nomeadamente, falando sobre esses movimentos de anti-vacinação que vão surgindo.

O governo tem o dever de proteger a população, tomando uma posição fundamentada que permita o acesso aos meios que as farmacêuticas produziram (garantindo que existem médicos p.ex.)

Agora chega-me à frente uma pessoa que não confia nas empresas farmacêuticas, nem no governo, muitas vezes nem sequer nos médicos que consulta; e ouviu pelos media que existe um grupo de pessoas que partilha da sua visão do mundo. Qual é o meu papel nesta discussão?

Não há discussão possível. A verdade está bastante disponível, mas esta pessoa simplesmente não a quer ouvir.

Por isso vou tentar vender vacinas recorrendo ao mesmo tipo de argumentos falaciosos que usam outros vendedores de banha-da-cobra:

– São produtos que aproveitam as potências naturais do corpo humano para reforçar as nossas defesas.

– Actuam de forma individualizada, de tal forma que constituem uma abordagem holística diferenciada: cada pessoa, como indivíduo, constrói a sua defesa de acordo com as capacidades e necessidades contra as agressões do mundo (pós-)moderno.

– É uma prática quase milenar, tendo originado na China ou possivelmente na Índia no séc. X. Graças aos seus séculos de uso, e a todos os ajustes feitos ao longo do tempo, sabemos que não só é uma prática segura, como é eficaz!

– Foi redescoberta no século XIX pelo biólogo Louis Pasteur, que conseguiu curar a raiva em mais de trezentas pessoas e crianças com o seu método moderno de inoculação. O seu método é ainda hoje usado e foi aperfeiçoado ao nível de uma arte.

– Apesar de toda a polémica que alguns grupos financeiros levantaram sobre o autismo ou as reações adversas possíveis, as vacinas continuam a ser aplicadas em milhões de pessoas todos os anos e eu não ouvi uma única queixa de algo para lá de “uma pequena febre depois da injecção”.

– Todos os anos saem cada vez mais estudos que comprovam a segurança e eficácia das várias vacinas de que agora dispomos. Dizem os cientistas que se continuarmos a investir nesta área, devemos conseguir descobrir até vacinas contra os piores perigos da sociedade moderna: “o” cancro, malária, VIH, e talvez até o capitalismo.

Bom, e é isto.

Se há riscos? Há. Mas tal como todos os outros medicamentos, as vacinas estão sujeitas a uma bateria de testes destinados a provar que a razão benefício/risco é favorável. Estes testes são avaliados por entidades independentes e desinteressadas de forma a reduzir o risco de corrupção e falsificação. Os mecanismos para protecção das pessoas não são perfeitos, mas estão todos no devido lugar.

Texto escrito pelo João.

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