Tudo sobre ressonar
Como quem não quer a coisa, salta a pergunta que realmente queria ver respondida:
“Por acaso não tem aí nada para o ressonar?”
Dou uma segunda olhadela para o senhor, tentando identificar um dos factores de risco (a obesidade) mas nada se me afigura.
“É o senhor que sofre do problema?” (Normalmente, isto sai-me como um “É p’ra si?”)
“É para a minha namorada.”
É curioso ver como uma coisa tão simples está ainda associada a um estigma tão curioso. O senhor baixou a voz e associei então o facto de a receita que estar a aviar nem sequer ser para ele.
Fiz a história na minha cabeça:
– Homem dorme mal desde que começou a namorar porque mulher se transforma numa betoneira durante a noite.
Homem atinge um qualquer limite na sua estabilidade mental perante a privação de sono e arranja a primeira desculpa que consegue para ir à farmácia ver se arranja qualquer coisa que lhe resolva o problema… Tudo isto antes que a privação de sono o leve a cometer negligência na central nuclear onde trabalha, colocando todo o mundo em perigo e forçando a CIA a enviar o seu melhor agente… –
Não sei se a história que inventei estava ou não perto da realidade, mas o atendimento teve de prosseguir.
“Existem várias causas possíveis para este problema, e consequentemente não uma solução única.”
O ressonar ocorre por uma dificuldade na passagem do ar durante o sono.
Esta obstrução pode ser esporádica e o ressonar durar apenas uns dias ou semanas, ou pode ser crónico. É este ressonar crónico que nos interessa tratar, porque é aquele que transforma gente pacífica em psicopatas.
Começamos então por identificar factores de risco que possam ser minimizados: obesidade, álcool e comprimidos para dormir, posição do sono. Um outro factor é a fisionomia da cara da pessoa: há pessoas que simplesmente são amaldiçoadas com a trompete dos infernos.
O que é que se pode fazer?
Várias coisas. Na maior parte das vezes a cura não é absoluta, mas quase todas estas medidas resultam na redução das vibrações e consequente melhoria dos sintomas.
- Perder peso é por vezes o suficiente para reduzir a pressão que a gordura faz sobre as vias respiratórias, e assim acabar com a obstrução. Mesmo que não cure completamente, o ressonar pode-se tornar mais suave.
- A obstrução do nariz e da faringe pode ocorrer por várias razões (quando estâbos côsdibados por exemplo).
Mas existem outras razões para esta obstrução que resultam de um relaxamento do palato mole (aquilo que separa a cavidade oral da nasal). Quando o palato relaxa demais, descai e entope a laringe, provocando a mais bela das sinfonias nocturnas – se estas fossem harmonizadas por um rinoceronte epiléctico.
Este relaxamento do palato em casos mais graves pode gerar a apneia do sono obstrutiva que, pelos longos períodos de desoxigenação do sangue, pode vir a ter consequências a longo prazo.
- Coisas como álcool, ansiolíticos e relaxantes musculares podem aumentar este efeito significativamente, aumentando o volume da música, pelo que evitá-las antes de dormir é muito recomendado.
- Medidas como dormir de lado (e não de costas) podem diminuir este efeito, diminuindo os problemas de sono.
Resumindo, existem alguns dispositivos que podem ajudar a diminuir obstruções nas vias respiratórias (pensos nasais), e algumas medidas não-farmacológicas que podem diminuir o efeito, como dormir de lado e arranjar uma almofada ortopédica que impede o palato mole de fechar a glote.
“Mas como é que digo à minha namorada que tem de fazer algumas mudanças?”
Ui. Aqui está o problema. Quando a ciência encontra a confusão das relações interpessoais é que se estraga tudo.
“Primeiro é preciso reconhecer o problema. O ressonar pode parecer algo cómico e de menor importância. Mas muitas vezes não é: é origem de stress físico e emocional no próprio ressonador e nos que o rodeiam.
Espero que toda a gente saiba que a privação de um sono de qualidade não é assunto de brincadeira. Uma noite não é problema, mas um mês pode vir a ser.”
A única forma de ultrapassar um problema deste género é falando sobre o assunto, e procurando arranjar um compromisso que melhore a saúde de ambos. Talvez isso passe por marcar uma consulta no otorrino… ou se calhar basta arranjar um par de tampões para os ouvidos.
E já sabe, se houver alguma questão a esclarecer ou precisar de encontrar a melhor solução para si, consulte o seu farmacêutico 😉
Texto escrito pelo João.