Tratar a ansiedade por tu
Ansioso…
Um dos assuntos que mais me comove ao balcão (e até fora dele), é a ansiedade. Ver uma pessoa a afogar-se nas suas circunstâncias é sempre penoso de se contemplar e complicado de lidar até por quem está de fora.
Gostava de dizer que há uma resposta simples. Que a culpa da ansiedade é do frenesim em que vivemos, do mundo que nos pede tudo e nada devolve. É tentador dizer que somos educados para rejeitar a ansiedade como uma fraqueza, e que crescendo com soluções fáceis -nomeadamente medicamentos- nunca aprendemos a lidar com ela de uma forma natural.
Generalizar não ajuda.
É fácil atribuir culpas ao mundo e à sociedade, à educação e à tecnologia. Mas a realidade costuma ser bastante mais complexa do que isso. Cada caso tem de ser analisado individualmente.
Certas situações merecem intervenção com medicamentos, esporádica ou ironicamente.
Outras merecem uma abordagem diferente, a pesquisa e eliminação das causas.
Ainda outros casos de ansiedade apresentam-se como sintomas de uma patologia mais profunda, e é necessária uma intervenção a vários níveis, nomeadamente recorrendo a antidepressivos ou estabilizadores de humor.
Algumas pessoas acabam por lidar com a sua própria ansiedade. Outros apoiam-se em família e amigos. Outros ainda recorrem a profissionais como os psicólogos e os psiquiatras. Alguns recorrem ocasionalmente a medicamentos simples para ajudar a lidar com a situação, e outros necessitam de medicamentos mais potentes.
Parece tentador dizer que aqueles que necessitam dos medicamentos mais potentes deviam tentar outras abordagens ou mesmo que deviam parar de os tomar. Mas como já disse, a realidade é mais complexa. A ansiedade por vezes gera uma “espiral descendente”, em que o próprio estado ansioso é causa para maior ansiedade, e isso torna muitas das abordagens de tratamento infrutíferas; outras vezes, a ansiedade é transitória, ligada a uma situação da vida, a uma alteração de rotina, ou mesmo por algum desequilíbrio hormonal.
Perdoem-me o tom mais sério desta reflexão.
Quando digo que é um assunto que me comove, digo-o com sinceridade. Comove-me porque me sinto impotente relativamente a ele. Posso dar um ouvido, mas nunca é suficiente. Posso oferecer conselhos, mas nunca serão suficientes, e por vezes podem até piorar a situação. Posso dispensar os medicamentos, e contribuir para um alívio a curto prazo, mas a solução não pode ser só essa. Não acredito que seja.
Pois bem, aqui está o melhor conselho que posso dar a quem sofra de ansiedade. A quem sinta que está a trepar uma montanha contra uma avalancha de preocupações.
Procure ajuda.
Um profissional é o ideal, mas nem todos os casos o requerem. Um amigo, um confidente, um ouvido atento é por vezes o suficiente.
Organizar os pensamentos em discurso dá-lhes corpo. Dá-nos algo que combater.
Não menospreze as suas preocupações. Reconheça-as pelo que elas são exactamente.
Não há soluções fáceis, mas não pense que são todas difíceis também. E as soluções fáceis existem também para serem usadas. Recorra aos medicamentos que precisa, mas pense neles não como uma cadeira, mas como uma muleta. Não é para se sentar e deixar que a cadeira o apoie… É para andar pelo seu pé.
E por último, tenha paciência.
Percebo agora que estive justamente a dar conselhos nestas últimas linhas. Amaldiçoada seja a minha recusa da aceitação da minha própria impotência relativa ao assunto…! Se tem de levar alguma coisa a peito, tome apenas o 1º conselho: Procure ajuda.
Texto escrito pelo João
Em caso de dúvida fale com a sua farmacêutica ou farmacêutico de família.