
TERESA MINHA IRMÃ TERESA
12 de Julho de 1999
Acordei com um aperto no coração.
Peguei no carro deixei o miúdo na escola e voei para o hospital.
A minha irmã foi internada há um mês e as rotinas mudaram desde então.
Atiro com o carro para cima do passeio e apresso o passo para chegar rapidamente ao quarto.
Abraço a minha irmã e dou-lhe um beijo.
Falamos sobre o trivial e com humor imaginamos a cascata de caracóis que vão crescer na sua cabeça despida.
É tão bom ouvir o seu riso contagiante, é como se nestes momentos, deixássemos de mão dada tudo para trás.
Os últimos dias têm sido complicados, queixa-se da agonia da doença maldita.
Admiro a sua força, a sua resiliência diária…o não baixar os braços.
As sessões de estudo com as amigas da faculdade nos intervalos da quimio e o quarto do hospital transformado em sala de estudo.
Durante a conversa perde os sentidos e enquanto a mãe sai do quarto, à procura de ajuda, ajoelho-me aos seus pés apertando com força as suas mãos, repetindo várias vezes o seu nome:
– “Teresa”.
Quando vem a si abre os olhos, assustada deixo escapar sem pensar:
– ”Pregaste-me um susto!”.
Cansada olha-me nos olhos e murmura apenas um:
– ”Shhhh…” como dissesse-me que tudo ia ficar bem.
Assisti às várias tentativas dos médicos para a trazer de volta, para nós.
Mas em vão.
Passaram vinte anos.
Pelo caminho ficaram tantos beijos e abraços por dar, muita discussão e conversa da boa por trocar.
Hoje vives no lado esquerdo do meu peito.
E ano após ano, neste dia as pontas dos nossos dedos tocam-se quando sou surpreendida com mais uma pequena conquista.
Obrigada por seres o meu anjo da guarda.
Amo-te.