O meu filho tem varicela – E agora?

A Constança veio à Farmácia e trouxe a sua filha Mimi. Estava preocupada porque de manhã enquanto estava a vesti-la reparou em algumas borbulhas dispersas pelo tronco. Pareciam-lhe bem diferentes das que tinha quando era picada pelas melgas ou das que aparecem quando come chocolate, alimento ao qual é alérgica.

Pediu-me para eu ver as borbulhas. Entrámos no gabinete e verifiquei que se tratavam de pequenas bolhas cheias de líquido transparente que não só se limitavam ao tronco mas também se estendiamao couro cabeludo. Também observei algumas pequenas manchas vermelhas que, suspeitei eu, se iriam transformar em novas borbulhas daí a pouco tempo. Pelo aspecto, pareceu-me varicela.

Estas vesículas ou “borbulhas” podem atingir também a boca e garganta, a face, as orelhas e os órgãos genitais. Mas no caso da Mimi pareciam cingir-se ao tronco e  e couro cabeludo.

A Varicela é uma infecção da infância causada pelo vírus Varicellazoster. É mais frequente no Inverno e na Primavera, afectando sobretudo crianças até aos 12 anos.

“Varicela!” Exclamou a Constança. “Um amiguinho da  sala da Mimi esteve em casa com varicela mas já foi há duas semanas.” Lembrou-se a assim que ouviu a palavra.

A varicela é altamente contagiosa disseminando-se facilmente entre irmãos ou entre colegas de escola através da saliva quando a criança tosse, fala ou espirra e através do contacto directo com as vesículas na pele.

Depois de infectada, uma criança demora entre 10 a 21 dias a desenvolver os sintomas, mas torna-se potencialmente contagiosa 2 dias antes de estes surgirem, ou seja, apesar de o colega da Mimi ter ficado em casa quando lhe apareceram as borbulhas, já lhe tinha transmitido o vírus antes. Este estado contagioso dura até todas as vesículas estarem secas e cicatrizadas, o que costuma demorar cerca de uma semana.

Perguntei à Constança por outros sintomas que também são muitas vezes associados à varicela, como febre ligeira, dores de cabeça, falta de apetite, mal-estar geral e dor de estômago e a Mimi foi acenando com a cabeça enquanto eu os enumerava.

E agora o que faço?

Primeiro: Isolar e tratar a criança doente é a melhor forma de evitar o contágio.

Segundo: Evitar coçar as borbulhas porque podem perfurar as vesículas ou remover as crostas cedo demais  abrindo assim uma ferida , local ideal para que bactérias oportunistas se instalem( manter as unhas cortadas).

Terceiro: O tratamento é feito de acordo com os sintomas que o doente apresenta.

No caso da Mimi para acalmar a comichão e evitar a infecção das bolhas foi aconselhado adicionar no banho de água morna um produto com acção calmante (contendo amido ou aveia) e antisséptica (com clorohexidina). Após o banho é recomendado a aplicação de produtos com calamina (ou óxido de zinco) nas manchas e bolhas, evitando tocar nos olhos.

Se lesões se estenderem à boca e garganta deve-se dar alimentos moles ou líquidos e frios (sopas, iogurtes, papas) evitando de todo os alimentos ácidos ou salgados.

Se a Mimi tiver dores ou febre poderá tomar um antipirético analgésico como o paracetamol. A aspirina e derivados não devem ser usados pois podem causar doença grave nas crianças.

Como se trata de uma doença contagiosa é importante que esteja isolada até que as borbulhas sequem. Depois de as crostas caírem a Constança deve aplicar um protetor solar para proteger e evitar o aparecimento de manchas na pele.

“ Vale a pena ir ao pediatra?”

Sim, vale sempre a pena ir ao pediatra, porque só ele pode despistar outras possíveis causas para os sintomas da Mimi (diagnóstico diferencial). No entanto, alguns dos casos podem ser resolvidos sem a intervenção do médico.

O médico tem de ser consultado se: a febre for alta ou descontrolada (mesmo com paracetamol), se as borbulhas começarem a infectar ou se os sintomas não passarem nem melhorarem em cinco dias, se surgirem outros sintomas ou as vesículas começarem a mudar em vez de secar. Essencialmente, se houver alguma dúvida, ou o caso for mais grave.

Se tem crianças em casa ou trabalha com crianças, informe-se e proteja-as, com a ajuda da sua farmacêutica;)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.