O JOGO DO DIA DA MÃE
Puxaste-me pela mão.
Contagiada pelo teu riso meio nervoso de quem tinha preparado alguma, obedeci-te sem questionar porque muitas vezes as perguntas atrapalham tudo.
Ficámos lado a lado diante do quadro de cortiça pendurado à porta da sala de aula, onde vinte e três descrições de mãe estavam presas por pioneses.
Passaste-me para a mão o teu nome escrito numa cartolina azul, desde pequenina que decidiste para ti, que não irias alimentar disputas futebolísticas, assim o teu clube não é vermelho nem verde, como o do pai ou o da mãe.
Mãe quem és tu?
Põe o meu nome por baixo.
Estavas feliz com este desafio e eu confesso que depois de uma primeira leitura a corta mato, senti-me embaraçada, porque pensei que seria mais fácil descobrir-me.
Sim, obrigada por me lembrares, tinha-me esquecido completamente, que a imagem aos olhos dos outros é diferente do nosso auto-retrato.
Falaste dos mimos, dos passeios a duas, do nosso jogo faz-de-conta para espantar os pesadelos e apesar de seres a benjamim cá de casa, foste a primeira a escrever sobre as pequenas imperfeições de uma mãe.
Ai, os ralhetes num tom mais alto e os esquecimentos na correria do dia-a-dia.
Mãe estás triste?
Nada que um abraço não desfaça.
Obrigada por pedires o melhor de mim.
A tua mão ainda cabe dentro da minha.