Mãe deixas furar as orelhas?

Estava a arrumar medicamentos quando ouvi uma voz de menina, fechei as gavetas e espreitei para o balcão.

Era a Rita, para mim Ritinha.

Perguntei-lhe em tom de brincadeira:

-Em que posso ajudá-la dona Rita?

Riu-se e disse com os olhos a brilhar:

-Luísa hoje faço cinco anos e a mãe já deixa furar as orelhas!

Conheci-a ainda estava na barriga da mãe.

Lembro-me do dia em que conheci a Ana, estava sozinha e tinha um olhar azul e calmo.

Quando chegou a sua vez pediu com um sorriso trémulo para fazer um teste de gravidez.

Enquanto aguardávamos o resultado, confidenciou sem a questionar, que estava apaixonada e sempre sonhou ser mãe.

Como tinha um ar muito jovem, lembro-me de perguntar se ainda estudava. Contou-me que tinha dezanove anos mas estava quase a fazer vinte. Conciliava o curso de design com um part-time numa loja de artigos vintage.

Apesar de viver com o pai gostava de ter os seus trocos. Depois de alguns minutos pergunta-me:

-Doutora já dá para ver o resultado?

Acenei com a cabeça e respondi-lhe:

– Vamos ver.

Quando olhei para o teste em cima da bancada vi dois tracinhos bem desenhados, teste positivo. Senti-me invadida por uma felicidade que não me pertencia.

Deu-me um abraço forte e exclamou emocionada:

-Vou já telefonar ao meu namorado!

– Muito obrigada Doutora a partir de hoje vou passar a vir sempre a esta farmácia!

Fiquei num misto de sentimentos apreensiva por ser tão nova mas contagiada pela sua alegria.

Dei-lhe os parabéns e um beijo de despedida.

Duas semanas depois vem à farmácia. Estaciona o seu Datsun branco perto da porta, entra e pede para falar comigo.

Tinha um olhar desiludido. Confidenciou-me que o seu namorado não queria ter o bebé e pediu para por fim à gravidez.

Na altura questionei como se sentia ao que prontamente respondeu:

-Doutora vou ter este bebé e sinto-me feliz por seguir o meu coração.

– Quando contei ao meu pai sobre a gravidez chorou e disse-me que eu era a pessoa mais importante do mundo, a partir daquele momento já não eramos apenas dois mas três, podia contar consigo sempre.

Perguntei se estava a ser seguida nas consultas de gravidez ao que respondeu afirmativamente. Tira da mochila uma receita e com um ar desembaraçado muito engraçado disse-me:

– Doutora o médico receitou-me umas vitaminas e um comprimido que tenho tomar todos os dias que vai ajudar o meu bebé a crescer bem!

Acompanhei a gravidez e depois o crescimento da Rita.

Quando a vi pela primeira vez no ovinho tão serena, de pele branquinha, pestanuda, lábios vermelhos bem desenhados, lembrei-me do olhar azul e calmo da mãe.

Todas as semanas a Ana vinha pesá-la na balança dos bebés. Mais tarde quando a Ritinha entrou para a escola passava sempre na farmácia ao final do dia para dizer apenas um olá.

A Ana queria fazer a vontade à filha mas estava com receio de a deixar furar as orelhas.

Expliquei-lhe que não existe idade mínima para furar as orelhas e o sistema utilizado é 100% encapsulado, estéril, silencioso e praticamente indolor.

O fecho redondo dos brincos o é muito vantajoso pois permite conforto dia e noite e não prende na roupa.

A Rita entrou para o gabinete com a mãe, escolheu umas bolinhas pequeninas prateadas em titânio (material antialérgico), sentou-se e marquei com uma caneta os pontos dos furos no seguimento da linha das orelhas.

Pedi ajuda a uma colega para furar uma orelha ao mesmo tempo que eu furava a outra orelha para não corrermos o risco de após o primeiro furo não querer furar a outra orelha.

No final reforcei alguns cuidados que deviam ter durante seis semanas:

  • rodar o brinco em ambos os lados,
  • usar uma solução antisséptica duas vezes por dia para evitar o aparecimento de infeções.

Quando se viu ao espelho com os brincos nas orelhas a Rita abraçou a Ana e exclamou:

-Obrigada mãe foi o melhor presente do mundo que já recebi em toda a minha vida!

Hoje ao vê-la na farmácia tão crescida e decidida a escolher os seus primeiros brincos sou invadida por uma felicidade que também é minha.

 

 

  1. Lisa Cristina Amaro says:

    Luísa, tomei conhecimento do seu blog através da “madrinha Coco” e não posso deixar de lhe dar os parabéns pela sua escrita. O meu comentário está neste artigo mas poderia estar em qualquer outro. Adorei a forma como escreve. Vou com certeza a partir de hoje visitar o seu blog com regularidade. Muitos Parabéns

  2. Élia Vicente says:

    Nas farmácias também dá para furar as orelhas ou é só na sua?
    Tenho uma menina lá em casa que me faz esse mesmo pedido há séculos… 🙂

    • Luisa Leal says:

      Boa Tarde Élia furamos as orelhas com as condições descritas no post,
      em relação a outras farmácias deve-se informar junto das mesmas ou da sua farmácia 🙂

  3. Que bom e poder ter disponível um blog que nos ajuda naquilo que por vezes nos acontece e não sabemos como resolver, ou atuar! E percebermos que deveremos ter sempre um aconselhamento de um técnico especializado sem interferencia de opiniões que por vezes não passam disso e podem levar a consequências graves.
    Obrigada Luísa o seu blog e muito importante 💚

  4. Ana Maria Dias says:

    Boa tarde, Luisa.
    Tal como a autora de outro comentário, fiquei muito agradada pela forma simples e afetiva como escreve. Parabéns!
    Mas, é claro que tenho o meu interesse 🙂
    Tenho desde há dez anos dois netos a viver comigo, um menino quase com 14 anos e uma menina, a Luisa, quase com 12.
    A Luisa já há anos que quer furar as orelhas. Confesso que para mim própria, usar brincos, nunca foi uma prioridade, mas entendo a vontade dela. No entanto, sempre tive medo por duas razões: primeiro porque ela tem um fundo atópico, e, quando menos se espera, faz uma reação alérgica generalizada, sendo que a maior parte das vezes nem conseguimos descobrir a quê. Em segundo lugar porque a mãe dela, quando já crescidinha (penso que teria esta idade, mais ou menos) furou as orelhas, fez uma reação grave, um dos furos infetou, fez inclusivamente gânglios no pescoço, teve de fazer antibiótico, enfim…
    Neste aniversario, eu gostava de lhe fazer a vontade! Mas confesso que gostaria de fazer tudo da forma menos arriscada possível. Será que tem conhecimento de alguma farmácia de confiança, no Porto, onde se faça este procedimento de uma forma segura?
    Muito obrigada pela colaboração e fico a aguardar.

    • Olá Ana, Obrigada pela sua opinião tão simpática 🙂 e importante. Furar as orelhas deve ser sempre feito em segurança.
      infelizmente não conheço farmácias na zona do Porto que o façam 🙁

  5. Bom dia,
    Furam sempre as duas orelhas por sistema? É necessário marcar previamente para furar?
    E onde é a farmácia?
    Obrigada

    • Luisa Leal says:

      Olá Ana,
      Furamos as duas orelhas ao mesmo tempo para evitar que a criança saía apenas com uma orelha furada (não queira fazer o outro furo), mas claro que fazemos um furo de cada vez se preferir. A morada da Farmácia Leal é Rua António Aleixo 86-A, 2780-086 Oeiras, não precisa de marcar,se tiver dúvidas pode contactar-nos para o 21 458 40 20.

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