
DIÁRIO DE UM ESQUECIMENTO #3
Cada vez que repetes a mesma história, dou-te um abraço forte. Um daqueles dados como me “ensinaste” tantas e tantas vezes quando eu era pequenina.
Estes assim têm super poderes, pelo que são preferíveis ao instintivo e habitual: “já contaste isso tantas vezes…”.
Repito também, uma e outra vez, o quanto gosto de ouvir as tuas peripécias de garoto, que parecem saídas de um livro de aventuras.
És um narrador encantador: só com a palavra consegues iluminar uma sala, e induzir em todos os ocupantes o sonho de uma infância a correr livremente na tua quinta. De corrida em brincadeira, acabavas sempre agarradinho às saias da tua avó.
Eras o seu neto preferido, e hoje, emocionas-te quase sempre quando falas da sua ternura.
Por isso também, de cada vez que fizeres a mesma pergunta repisada muitas vezes, vou responder-te primeiro com um beijinho, e só depois vamos dar espaço às palavras.
Estamos a aprender a viver com o teu esquecimento, sempre de mãos dadas.
Abrimos a porta às ajudas que forem precisas, batemos noutras que forem preciso abrir.
Está tudo certo.